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Literatura

Luís de Camões – Um Poeta Épico

O poeta português Luís Vaz de Camões (1524-1580), é mais conhecido pela sua obra literária “Os Lusíadas”, que se encontra entre os melhores épicos modernos. Ele foi um letrista de rara perfeição e é considerado o maior poeta da língua portuguesa.

Luís de Camões era filho de Simão Vaz, de Coimbra, e Ana de Sá e Macedo. A data do seu nascimento está bastante bem estabelecida; contudo, tal não é o caso do seu local de nascimento. Das várias cidades que reivindicam a honra, Lisboa tem a melhor reivindicação, com Coimbra uma segunda possibilidade. Era um fidalgo cavaleiro (sem título nobre) e descendente de uma família nobre e rica de origem galega que se tinha estabelecido em Portugal nos finais do século XIV, como resultado das guerras civis que grassavam em Castela. Era também parente do explorador Vasco da Gama, de cuja viagem heróica à Índia iria cantar em “Os Lusíadas”.

Breve História de Camões

A história de Luís Vaz de Camões

Camões passou os seus primeiros anos em Coimbra, onde estudou na universidade. Recordou com carinho a sua vida durante esses anos na sua poesia e em anos posteriores vangloriou-se com razão dos seus estudos.

Por volta de 1543, com os seus estudos concluídos, o autor foi para Lisboa, onde entrou nos círculos da corte como protegido do grande nobre Dom Francisco de Noronha, Conde de Linhares. Tornou-se amigo do filho do conde, Dom António, e de acordo com a tradição, atuou como seu tutor. Uma espessa teia de lendas obscurece estes anos de vida do poeta, mas é certo que ele escolheu uma carreira militar (uma vocação mais adequada para um nobre empobrecido) e que estava no Norte de África em 1547.

Da sua poesia deduziu-se que durante algum tempo se juntou à guarnição de Ceuta, o mais importante centro comercial e posto militar português no Norte de África e que perdeu o olho direito numa escaramuça com os mouros. A explicação lendária para este interlúdio norte-africano diz que Camões foi ali banido da corte devido a um caso de amor. O nome que a tradição tem mais frequentemente ligado a esta história é o de Dona Catarina de Ataíde, presumivelmente a “Natércia” dos seus poemas.

A Obra Literária de Luís de Camões

As obras de Camões enquadram-se nas três categorias da poética clássica:

  • Poesia Dramática
  • Poesia Lírica
  • Poesia Épica

As suas três obras dramáticas existentes são as suas composições menos importantes. Anfitriões é uma obra juvenil de pouco valor, mas mostra a sua profunda fundamentação na literatura clássica e na comédia, uma vez que deriva diretamente de Amphitruoby, o dramaturgo romano Plautus. El-Rei Seleuco (1545) é derivado do autor grego Plutarco. Acredita-se tradicionalmente que esta peça trouxe a Camões o desfavorecimento do rei João III, que supostamente pensava que o enredo se assemelhava demasiado à sua própria vida. O Auto de Filodemo (1555) baseia-se numa série de aventuras cavalheirescas fantásticas. Embora o poeta tenha contribuído para o desenvolvimento do drama português ao dar contenção e profundidade ao Auto (uma pequena peça medieval sobre um tema sagrado ou bíblico) de Gil Vicente, ele teve pouca influência duradoura.

Como poeta lírico, tinha um grande número de imitadores e discípulos. É um dos grandes poetas europeus do amor. Destaca-se na utilização tanto dos tradicionais medidores peninsulares como das formas italianas recentemente importadas e escreve tão bem em espanhol como em português. Temática e ideologicamente, o seu lugar situa-se no meio daquela larga avenida da poesia de amor que se estende desde Petrarca ao Neoplatonismo até ao século XVII. A inspiração de Camões foi eclética – foi influenciado pelo poeta latino Horace e pelo poeta italiano Pietro Bembo, entre outros – mas os seus sonetos têm uma textura e um temperamento completamente próprios.

Embora a primeira edição do “Rimas” só tenha sido publicada em Lisboa em 1595, por Fernão Rodrigues Lobo Soropita, os seus poemas tinham tido anteriormente uma ampla circulação em várias formas manuscritas. Uma vez que Rodrigues Lobo não estava a trabalhar com uma cópia de autógrafo, a sua edição contém material alheio. Coleções posteriores de poesia, nomeadamente a edição grosseiramente inflada do Visconde de Juromenha (1860-1869), contêm um grande número de obras inautênticas.

Os Lusíadas

A obra-prima de Camões é, contudo, o seu poema épico “Os Lusíadas”. Cervantes chamou-lhe “o tesouro de Portugal”. Esta obra está à maneira do épico renascentista, como aperfeiçoado pelos poetas italianos Matteo Boiardo e Ludovico Ariosto, e por isso está escrita em ottava rima, com 1102 estrofes divididas em 10 cantos. Sendo Lusus o herói mítico e epónimo da Lusitânia (o nome latino para Portugal), o título do poema indica que Camões se preocupa com a história e as realizações portuguesas.

Ao contrário dos seus modelos italianos, o poeta não escolheu um tema remoto e lendário, mas seguindo a forma dos épicos espanhóis, desde o anónimo Cantar de Mio Cid (1140) até La Araucana de Don Alonso de Ercilla (1569), escreveu sobre acontecimentos contemporâneos ou bem documentados por fontes históricas. Ao longo da obra, o autor elogia a coragem e o empreendimento dos exploradores portugueses, e Vasco da Gama, o descobridor da rota marítima para a Índia, é a figura central da epopeia. Camões vê Vasco da Gama e a sua força portuguesa como defensores da Fé, evangelizadores marciais que triunfam sobre o homem e a natureza. De uma forma típica da epopeia renascentista, este poema heróico, que tem um tema mais cristão e histórico, utiliza frequentemente elementos retirados da mitologia pagã a fim de realçar a estatura épica da nação portuguesa.